De
guerrilheiro à condição de segundo homem mais poderoso da República e de
negociador de grandes empresas. A surpreendente trajetória de José Dirceu até
as grades.
Até há
bem pouco tempo, parecia improvável que no Brasil um homem como José Dirceu,
que acumulou tanto poder e prestígio ao longo da vida, acabasse atrás das
grades. ex-guerrilheiro que lutou contra a ditadura, ajudou a fundar um partido
de trabalhadores e ocupou o segundo cargo mais importante da República, Dirceu
experimenta agora o infortúnio de ser o primeiro ex-ministro de Estado a
receber pena tão alta por corrupção e ainda ter de ressarcir os cofres
públicos. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal o condenou a dez anos e
dez meses de cadeia e ao pagamento de uma multa de R$ 676 mil, por ter chefiado
o esquema do mensalão. Dirceu está prestes a voltar para o cárcere, mais de
quatro décadas depois de ser preso em Ibiúna (SP) durante um congresso clandestino
da União Nacional dos Estudantes (UNE). As circunstâncias de agora, no entanto,
são bem diferentes daquelas de 1968, quando o jovem mineiro de Passa Quatro já
era um combativo militante político. No comando da UNE, havia abandonado os
estudos para lutar pela democracia. Hoje, mancha de maneira indelével a própria
biografia ao ser condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Em seu
voto, o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no STF,
acusou o petista de colocar “em risco o sistema democrático” ao se ocupar
pessoalmente de tais práticas criminosas. Ou seja, por ironia do destino,
Dirceu, como chefe da Casa Civil do governo Lula, teria atentado contra a mesma
democracia que ajudou a instaurar, colocando em jogo a própria liberdade.
Provavelmente, sua vida lhe passou à mente enquanto acompanhava pela tevê os
ministros do Supremo confirmando, um a um, a sentença. (Istoé)