Estalando de nova, a Mercedes S 350 chamava a atenção na porta do
hotel The May Fair, um dos mais caros de Londres. Na janela, uma folha
exibia o logotipo do banco BTG Pactual e o sobrenome do passageiro
ilustre: “Mr. da Silva”. O ex-presidente Lula visitava a capital
britânica a convite do banqueiro André Esteves, em abril de 2013. Ele
fez mais duas viagens ao exterior com despesas pagas pelo financista,
que o contratou para dar palestras.
O petista não foi o único político patrocinado pelo BTG. Seis meses
depois, o senador Aécio Neves se hospedou com a mulher no luxuoso
Waldorf Astoria, em Nova York, com diárias bancadas pelo banco. O
gabinete do tucano diz que ele também foi convidado para falar a
investidores.
Preso ontem por ordem do Supremo Tribunal Federal, Esteves costumava
abrir o cofre para financiar candidatos de todos os partidos. No ano
passado, doou R$ 6,2 milhões à campanha de Dilma Rousseff, do PT, e R$ 5
milhões à de Aécio, do PSDB. O deputado Eduardo Cunha, do PMDB, recebeu
R$ 500 mil declarados.
Para a Procuradoria-Geral da República, o banqueiro não se limitou a
cortejar políticos com viagens e doações de campanha. Ele agora é
acusado de tentar sabotar a operação Lava Jato, em conluio com o senador
petista Delcídio Amaral.
Segundo os investigadores, Esteves ofereceu R$ 4 milhões para comprar
o silêncio de Nestor Cerveró, preso em Curitiba. Com isso, evitaria que
o ex-diretor da Petrobras confirmasse suspeitas sobre os negócios
bilionários do BTG com a estatal.
Para o procurador Rodrigo Janot, a conduta do financista representou
um “escandaloso risco para a ordem pública”. O ministro Teori Zavascki,
do STF, entendeu que sua prisão era “imprescindível para evitar possível
prejuízo à investigação”. O episódio deveria inspirar políticos de
todos os partidos a repensar suas relações com banqueiros. Especialmente
os que se mostram mais generosos, como o dono do BTG.
Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo