segunda-feira, 27 de maio de 2019

GANHAR PERDENDO

Coluna de Carlos Brickmann
Digam o que disserem os teóricos, o fato é que a anarquia funciona. Jair Bolsonaro tem seus líderes no Congresso, mas cada um diz uma coisa, faz outra e, no caminho, descumpre os acordos que acertou. O próprio Bolsonaro pede uma coisa e luta por outra. O fato é que funcionou: a reorganização do Ministério foi aprovada (só que o Coaf ficou na Economia, em vez de ir para a Justiça, e a Funai ficou com a Justiça, saindo dos Direitos Humanos – e Bolsonaro, que propôs as mudanças, agora quer que tudo fique como está).
O ministro Moro ficou chateado ao perder o Coaf, mas parece já acostumado a apanhar. Há uma reforma tributária pronta para ser votada. Não é a de Paulo Guedes, mas foi redigida por um economista de porte, Bernard Appy; Paulo Guedes pode usá-la. Há uma reforma da Previdência (dos tempos de Temer) já em estágio avançado. É acoplar esta à de Guedes, fazer um substitutivo e pronto. Guedes disse que, se a reforma for daquelas meia-boca, pede para sair. Mas é provável que se entenda bem com Appy e equipe, e se acertem.


Claro que, no meio da confusão do Governo e de sua difícil relação com o Congresso, de repente tudo pode desandar. Quem tem tocado as reformas para a frente é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um primeiro-ministro informal. O líder do Governo na Câmara, Major Vitor Hugo, brigou com ele. Mas os líderes do Governo estão brigados entre si (e às vezes agem contra o Governo de que são líderes). O Governo perde todas, mas é assim que ganha.