Mais próximos de iniciar
formalmente a pré-campanha, políticos que disputarão o comando do Governo do
Ceará nas Eleições 2022 já
articulam os grupos e começam a demarcar território nos 10 maiores colégios
eleitorais do Estado. A medição de forças entre base e oposição passará também
pelos novos prefeitos eleitos em 2020 e que servirão como cabos eleitorais
indispensáveis para angariar votos nas cidades com maior número de
eleitores.
Se confirmado o atual cenário, essa disputa se dará
majoritariamente entre o grupo dos irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes - que
deverão indicar um nome do PDT para a sucessão de Camilo Santana (PT),
e o deputado federal Capitão Wagner (Pros), que já lançou
pré-candidatura pela oposição.
Enquanto o grupo governista tem a missão de
garantir a capilaridade os votos, reforçar a base e orientar prefeitos aliados
para angariar votos nas cidades, a oposição deve correr por fora e intensificar
as visitas ao Interior em busca de aliados, avaliam especialistas.
FORTALEZA: 25% DO
ELEITORADO
Entre os 10 maiores municípios em número de
eleitores, Fortaleza é o principal colégio eleitoral, representando uma fatia
de 25% do eleitorado cearense. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral
(TRE-CE), a Capital tem cerca de 1,6 milhão de pessoas
aptas a votar.
Capitão Wagner vive um impasse após a criação
do União Brasil, partido que uniu o Democratas e o PSL a nível nacional. No
Ceará, ele disputa o comando da sigla com a base governista.
Para ambos os lados, o União Brasil
representa, em resumo, maior tempo de televisão e maior fundo eleitoral,
atrativos que costumam aglutinar aliados na sigla. O partido foi validado
oficialmente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no último dia 8.
Por outro lado, a expectativa é de que haja
indicação do PDT para sucessão de Camilo Santana. Ao menos cinco nomes estão
cotados internamente para concorrer ao cargo.
O ex-prefeito Roberto Cláudio é um deles,
além do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, a
vice-governadora, Izolda Cela e o deputado federal Mauro Filho. Além deles,
também se colocou à disposição como pré-candidato o deputado estadual Zezinho
Albuquerque.
A cientista política e professora da
Universidade Estadual do Ceará (UECE) Monalisa Torres avalia que, enquanto
Wagner saiu fortalecido, com 38,41% dos votos, na disputa pela Prefeitura de
Fortaleza, em 2020, a popularidade de Camilo Santana teve influência na vitória
do prefeito José Sarto (PDT), com 51,69%.
INDEFINIÇÃO EM CAUCAIA
Eleito na oposição com um
discurso voltado para a Segurança Pública, o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros),
recentemente se aproximou da base, dividindo palanque com Ciro, Cid e Camilo
Santana durante eventos do Governo do Estado.
Ex-deputado estadual, Valim
disputou a prefeitura do segundo maior colégio eleitoral do Ceará (226.124
eleitores) com Naumi Amorim (PSD),
que é aliado do grupo governista. O resultado das eleições, portanto, indicou
uma derrota para o governo.
A avaliação de Monalisa Torres
é de que a aproximação de Valim com Cid, Ciro e Camilo seria esperada, uma vez
que se trata de um município “complexo” de se administrar e que ainda conta com
repasses do governo.
“Valim não tinha experiência
em Poder Executivo, é uma outra dinâmica. Como prefeito, em um município
complexo como Caucaia, eu não me surpreendi, mas eu não acho que isso (a
aproximação com Camilo) é definitivo, até pela legenda e pelos discursos que
foram mobilizados”, explica a professora.
Aliados do Capitão Wagner na
Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) chegaram a chamá-lo de traidor, uma vez
que Valim se manteve como um dos principais críticos ao governo enquanto
exercia mandato de deputado estadual.
INVESTIDA
DA OPOSIÇÃO EM JUAZEIRO DO NORTE
Em Juazeiro do Norte, terceiro
maior colégio eleitoral, o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos),
desde que foi eleito, não se coloca oficialmente na oposição.
Ao mesmo tempo, Bezerra já
dividiu palanque com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e
com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos),
em recentes passagens pelo Ceará. Em ambos os casos, o prefeito presenteou o
presidente e o ex-ministro com uma estátua do Padre Cícero.
Um dos desafios
do grupo, portanto, será reunir aliados e, via de regra, tentar emplacar
votação expressiva no município comandado por um prefeito que não é
aliado.
Juazeiro, na avaliação de Torres, poderá
servir de “exemplo” para uma eventual campanha de Wagner, uma vez que a
prefeitura está em processo de atualização do Plano Diretor, tendo a Segurança
Pública como uma das prioridades.
“Glêdson é um Policial Civil. (O exemplo de)
Juazeiro do Norte pode ser mobilizado por Wagner, que não tem experiência em
cargos do Executivo. A experiência de Glêdson pode ser levantada como um ponto
positivo para demonstrar que o grupo tem agenda para o Estado”, diz a
especialista.
Já para o professor Raulino Pessoa,
especialista em Ciência Política, as cidades do Cariri, principalmente Juazeiro
e Crato, são importantes para base e oposição, uma vez que o local concentra
obras e investimentos públicos realizados pela atual gestão.
"Camilo criou uma série de políticas
públicas aqui no Cariri; Crato tem o curso de Medicina, em Barbalha tem o
Teleférico e, em Juazeiro, o bondinho do Padre Cícero. Essas obras são ações
importantes e estão sendo inauguradas [...] isso quer dizer que ele quer
consolidar sua base no Cariri", salienta.
MARACANAÚ
Com 162.604 eleitores, Maracanaú, na Região
Metropolitana, tem como prefeito o ex-deputado federal Roberto Pessoa (PSDB),
oposição aos Ferreira Gomes, um dos principais expoentes da oposição no Estado.
Ele é pai da deputada estadual Fernanda Pessoa (PSDB), também da
oposição.
O grupo está no comando do Município há mais
de uma década. O ex-prefeito Firmo Camurça é pré-candidato a deputado estadual,
e Fernanda deve disputar vaga na Câmara dos Deputados. Com a mobilização do
grupo, vai ser difícil a inserção de aliados do Governo.
O principal nome da base governista em
Maracanaú é o deputado Júlio César Filho (Cidadania), filho do ex-prefeito
Júlio César. Líder do Governo na Assembleia Legislativa, ele foi
derrotado na disputa pela prefeitura contra Roberto Pessoa em 2020. Nos últimos
dias, tem protagonizado embates com os Pessoas diante do impasse do reajuste
salarial dos professores no Município.
SOBRAL
Em Sobral, cidade com 142.959 eleitores, a
medição de forças se dará, majoritariamente, com a família Rodrigues,
representada pelo deputado federal Moses Rodrigues (MDB) e seu pai Oscar
Rodrigues (MDB), que foi candidato a prefeito em 2020.
Comandada por Ivo Gomes (PDT), a cidade é
usada de forma recorrente como vitrine pelo grupo, que exalta os números na
educação do município, por exemplo.
Na semana passada, Capitão Wagner esteve na
cidade e foi recepcionado por Oscar Rodrigues para um almoço. A aproximação
indica apoio dos Rodrigues à oposição, uma manobra já apontada por Monalisa
Torres.
“Oferecemos, junto com meu filho deputado Moses
Rodrigues, um almoço para recepcionar o deputado Capitão Wagner. Foi o momento
para revermos amigos, o melhor que tem da política de Sobral”, escreveu o
ex-prefeito nas redes.
A cientista política Carla Michele Quaresma
avalia ainda que, no intervalo entre as eleições, é comum ver oscilação de
apoio, quando um político, por vezes, acaba transitando entre base e oposição,
por conveniência.
"Vimos na eleição passada uma disputa
pela quantidade de prefeitos que aderiam a uma ou outra campanha; ainda existe
uma relação que é muito baseada na pessoalidade", destaca.
ITAPIPOCA
Em 2020, o petista Felipe Pinheiro, que é
base do governo, foi eleito prefeito de Itapipoca com 43,74%.
Por lá, Capitão Wagner tem como aliado o terceiro colocado na disputa de 2020,
o médico Dr. Dagmário (Republicanos).
O município é o sexto maior colégio eleitoral
do Ceará, com 89.022 mil eleitores.
CRATO
Com 87.430 eleitores, o Crato é segunda maior
cidade do Cariri, e com tradição de disputa acirrada entre base e oposição. O grupo
governista tem como aliado o prefeito Zé Ailton Brasil (PT),
que exerce o segundo mandato consecutivo.
No município, no entanto, há atuação
constante do grupo oposicionista, que tem como um dos representantes o médico Dr. Aloísio (Pros),
candidato a prefeito derrotado em 2020.
Em recente visita à região, Capitão Wagner
foi recepcionado por Aloísio e pelo empresário Gilmar Bender, ex-aliado
dos irmãos Ferreira Gomes, e agora integrante do grupo da oposição.
MARANGUAPE
A aproximação da oposição em Maranguape é através
do ex-prefeito George Valentim (PSB).
Atual secretário de Educação de Maracanaú, George ficou em terceiro lugar nas
Eleições 2020, com 24,22% dos votos.
Já a base governista conta com o prefeito
eleito pelo Solidariedade, Átila Câmara, que é próximo do governador Camilo
Santana (PT).
IGUATU
Em Iguatu, tanto o prefeito Ednaldo Lavor (PSD)
quanto o candidato que ficou em segundo lugar em 2020, deputado Agenor Neto
(MDB), são da base o governo.
O grupo governista também conta com outros
aliados na como o deputado estadual Marcos Sobreira (PDT), que já foi
vice-prefeito do município.
QUIXADÁ
Já em Quixadá, décimo colégio eleitoral do
Ceará com 56.472 votos, o governo viu o jogo se inverter nos últimos quatro
anos.
Em 2020, o petista Ilário Marques perdeu a
reeleição para Ricardo Silva (PSD), que foi eleito prefeito. Os dois também
disputaram o cargo do Executivo em 2016, e Ricardo havia sido derrotado,
ficando em segundo lugar no pleito.
Carla Michele Quaresma ressalta a
importância dos prefeitos. Para ela, essas figuras são indispensáveis uma vez
que candidatos a eleições majoritárias não têm tempo hábil de visitar os 184
municípios cearenses em uma campanha.
"A forma como a campanha chega nos
municípoios através de prefeitos, vereadores. O candidato a governador ou
senador não tem condições de sair percorrendo os municípios, esse contato mais
próximo acontece por meio das lideranças locais, é fundamental essa articulação,
essa capilaridade", diz a especialista.