O projeto coloca em lados opostos o primeiro-secretário Evandro Leitão e o secretário das Cidades, Zezinho Albuquerque, ambos do PDT. Proposta tramita na Casa, pelo menos, desde 2015, mas avançou com mais força em março deste ano. Na próxima terça-feira, audiência pública debate o tema
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (AL-CE) tem um encontro
marcado com a polêmica na próxima semana. O presidente da Casa, deputado José
Sarto (PDT), declarou ontem ao Diário do Nordeste que deve pautar o projeto de
autoria de Evandro Leitão (PDT), que libera o consumo e a venda de bebidas
alcoólicas dentro dos estádios cearenses. Nos bastidores, dois grupos
intensificam a disputa por votos contra e a favor do projeto com o prazo
apertado até a votação.
O projeto de Evandro foi apresentado neste ano. Entretanto, há
tentativas de liberar o consumo de álcool dentro dos parques esportivos do
Estado desde, pelo menos, o ano de 2015, quando o então deputado estadual Gony
Arruda (PSD) apresentou projeto de teor idêntico ao atual.
O texto não avançou ao longo da última legislatura, e o deputado
licenciado e secretário das Cidades Zezinho Albuquerque (PDT), ex-presidente da
Assembleia, reivindica a responsabilidade pelo feito. "Quando eu deixei a
Presidência, começou um rebuliço", diz. Autor do projeto "Ceará Sem
Drogas", ele afirma que, nas conversas que vem tendo com parlamentares, a
maioria é contrária à liberação. Zezinho contabiliza cerca de 32 votos contra o
projeto. "Será que a pessoa não consegue passar 1h30 sem beber?",
questiona retoricamente.
Audiência pública
Enquanto Zezinho está na secretaria, o deputado Walter Cavalcante (MDB)
continua na Casa cerrando trincheiras contra a ideia. Segundo ele, a
mobilização ganhará mais força na próxima terça-feira (7), após a realização de
audiência pública sobre o assunto convocada por outro adversário da medida, o
deputado Apóstolo Luiz Henrique (PP).
"Vamos começar a trabalhar com os movimentos para tentar barrar
essa proposta", declara. O encontro deve ser a última mobilização pública
sobre o tema promovido na Casa. A partir daí, a expectativa é de um corpo a
corpo com os parlamentares.
Do outro lado, quem lidera o esforço pela liberação da bebida é Evandro
Leitão, autor do projeto e ex-presidente do Ceará Sporting Club. "O
contexto social e histórico mostra-nos que a permissividade de tal conduta, com
a competente regulação legal e fiscalização administrativa, não pode ser intimamente
relacionada aos episódios de violência no meio esportivo", argumenta o
pedetista na justificativa da matéria polêmica.
Procurado, o parlamentar deu poucos detalhes sobre a mobilização em
torno da matéria. Perguntado se já possuía uma estimativa de votos, despistou:
"Vamos esperar a votação".
Entre os que vão votar a favor está outro ex-cartola: o deputado Osmar
Baquit (PDT), ex-presidente do rival Fortaleza Esporte Clube. "Quem vai
para estádio não é alcoólatra e nem bandido", sustenta. "É uma
questão cultural do Estado", completa.
O deputado Salmito Filho (PDT) também defende a liberação da bebida.
"Não há um indicador do aumento da violência com a venda de bebida
alcoólica nos estádios. Por outro lado, há uma oportunidade econômica para os
clubes", argumenta Salmito.
O tema da liberação da venda de bebidas nos estádios ganhou espaço na
pauta da Assembleia em março, quando a matéria voltou à tona. Apresentada no
dia 6, o texto já estava pronto para ser votado em plenário no dia 20.
Em abril, as discussões sobre o assunto acabaram perdendo intensidade
com o ganho de espaço para disputas em torno dos consórcios de saúde - conforme
divulgado pelo Diário do Nordeste no fim de março -, e também no aguardo de uma
indicação do presidente da Casa, José Sarto, sobre a data em que o texto,
enfim, viria à pauta de votações. Segundo parlamentares, havia a expectativa de
que isso acontecesse no fim do mês passado, o que acabou não se concretizando.
(Diário do Nordeste)