(Via Blog do Eliomar de Lima)
Em entrevista ao jornal O Dia, o ex-governador do Ceará e
ex-ministro Ciro Gomes criticou a nomeação do ex-presidente Lula como
ministro da Casa Civil, por avaliar que coloca a autoridade da
presidente Dilma Rousseff em xeque. Confira os principais trechos:
O DIA: A nomeação do ex-presidente Lula vai ajudar a presidente Dilma a se safar do impeachment?
Ciro: Esse é o maior erro da história da República,
desde que eu milito na luta política há 30 anos. O Lula não é réu de
coisa nenhuma e o fato de ele ser ministro não impede, não inibe a
franquia que a Justiça tem de investigar. Isto dito, repito: esta é a
pior ideia que eu já vi na minha existência na vida pública.
O DIA: Por que?
Ciro: Porque ainda que não seja, parecerá um
constrangimento absolutamente gravoso ao Supremo Tribunal Federal. Ainda
que não seja, parecerá que o Lula estava querendo fugir de um juiz
‘severo’ (entre aspas, frisa Ciro) para presumindo impunidade se abrigar
na jurisdição do Supremo. Tudo isso foi agravado pelas gravações
divulgadas. E o Supremo tem se comportado muito bem, salvo um ou outro
ministro. Não vamos esquecer que o Tribunal prendeu a cúpula do PT
inteira.
O DIA: Mas o Lula agora foi nomeado ministro.
Ciro: Ele vem para fazer o que no governo? Dizer que
a presidente não tem autoridade? Ele vinha fazendo isso há muito tempo.
Eu já tinha censurado isso publicamente muitas vezes. Agora, ele vem
para o governo como interventor? O que restou da autoridade da
presidente da República?
O DIA: Na sua avaliação o processo de impeachment vai andar mais rápido agora com o Lula na Casa Civil?
Ciro: Antes não havia consenso contra ou a favor do
impeachment. Esse consenso ainda não existe, mas agora deu muitos passos
acelerados para o consenso. O que eu tenho a ver com os problemas do
Lula? O que eu tenho a ver se o Lula resolveu virar ‘nouveau riche’ e se
dá às franquias da burguesia num sítio e num tríplex? O que eu tenho a
ver com isso? Ele tem o direito de ser respeitado como inocente. O juiz
errou quando fez condução coercitiva dele para depor. Esse vazamento
todo das gravações é uma violência fascista, todo fora do Direito. Mas o
que eu, Ciro Gomes, tenho a ver com a vocação do Lula para virar Deus?
Não tenho nada a ver com isso. A nomeação do Lula agravou o problema
dramaticamente. Nós estamos na iminência de uma cleptocracia (estado
governado por ladrões) se instalar no Brasil.
O DIA: O senhor está no PDT um partido que, em sua maioria, é contra o impeachment da presidente Dilma
Ciro: Acho que o impeachment é um golpe e ele agora
ganhou muito mais qualidade protocolar, formal, fica muito mais fácil
esconder que ele é um golpe de um grupo de cleptocratas, um sindicato
dos ladrões.
O DIA: Quem é desse sindicato de ladrões?
Ciro: O sindicato de ladrões agora é uma coalizão
PMDB/PSDB, acertada em jantares em Brasília. Com detalhes de como vão
repartir o governo, como o Michel Temer tem que assumir anunciando que
não é candidato à reeleição. Como vão desarmar a bomba da Lava Jato,
porque começou a sair do controle. Porque os políticos começaram a ver
que pode sobrar para o lado deles. Isso é o que tá apalavrado, num
jantar em Brasília, pelos cleptocratas do Brasil.
O DIA: O senhor será candidato à presidência em 2018?
Ciro: Não sei se eu vou ser candidato. Mas não me
interessa servir um país que, para você ser presidente, tem que fazer o
que o Lula fez: vender a alma, beijar a cruz, se cercar de bandidos. Não
quero. Se for para ser candidato, vai ser com um conjunto de
princípios. Neste momento, ainda estou gravemente aborrecido com o que
eu estou assistindo acontecer. Ainda estou convencido que o impeachment é
uma tragédia contra a democracia brasileira. A corrupção tem que ser
intransigentemente combatida. Quem quer que seja, tem que dar
satisfações à lei e à Justiça. Quero que se exploda quem meteu a mão na
cumbuca. Agora, é o Michel Temer que vai moralizar o país? É o Eduardo
Cunha que vai moralizar o país? O PMDB tem sete ministros no governo da
Dilma. A melhor coisa que a gente tem é ter eleito o Picciani (Leonardo
Picciani, líder do PMDB)? Eu não tô nessa turma. Eu sou obrigado a ficar
desse lado, mas não me confundo. Não dá para ficar nessa turma. Não vou
para uma reunião que planeja uma ação contra o impeachment com esse
tipo de gente. Não tem a menor chance.