A natureza humana e os avanços
das tecnologias convivendo de forma conflituosa. Essa é a premissa da série de
ficção científica distópica Black Mirror, da Netflix, que foi usada como parte
da argumentação de redações nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem)
em vários relatos no País e duas alunas cearenses também citaram a série.
As
estudantes Ivina Araújo Ribeiro, 21, do Colégio Farias Brito, em Sobral, e Laís
Mesquita Câmara, 18, do Colégio Master Sul, em Fortaleza, contam que, ao se
depararem com o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de
dados na internet", proposto para a redação de 2018, não tiveram dúvida ao
utilizar as reflexões geradas por Black Mirror para argumentação dos textos.
A fórmula de utilizar
elementos da cultura pop para embasar o texto deu certo e as duas alunas
conquistaram a nota máxima na prova de redação, assim como Marília
Oliveira, 19, do Colégio Tiradentes, e Lívia Taumaturgo, 18, que terminou o
ensino médio em 2017, no Colégio Ari de Sá. A estudante Melissa Fiuza, também do Colégio Farias Brito,
- que foi procurada, mas até a publicação desta matéria não atendeu aos
telefonemas -, completa a lista de cearenses que cravaram a nota mais alta na
redação do exame.
Estruturando a redação em argumentos, e desenvolvendo
repertório e solução para cada alegação, Laís conta que esquematizou a redação,
foi fazer a prova de Português e teve a ideia de usar a premissa de Black
Mirror. “É uma série muito interessante para entender as relações no contexto
atual. Decidi assistir, e na hora da redação foi um argumento crucial”,
relembra.
“Acho que foi o diferencial dos meus estudos neste ano:
tentar ver a relação dos conteúdos das matérias com assuntos do dia a dia, com
o que eu consumo de série, de livros, de músicas. Assim, na hora da redação
usei Black Mirror, que fala da tecnologia, e de como os avanços são uma faca de
dois gumes, libertam e prendem ao mesmo tempo”, comenta Ivina, que tentou pela
sexta vez o Enem - em 2014, ela tirou 980 na prova.
O outro fundamento das duas
também foi semelhante. Elas refletiram em seus textos sobre o conceito de
Indústria Cultura, de Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W. Adorno
(1903-1969), os principais representantes da escola, fundada em 1924 na
Universidade de Frankfurt, na Alemanha. “Estudei muito Filosofia. Nunca tinha
estudado realmente Filosofia, mas eu sabia que era uma matéria muito boa para
usar argumentos para redação. Um dos últimos capítulos que estudei foi sobre
Adorno e Horkheimer e foi o que eu usei na redação, sobre a Indústria
Cultural”, conta Laís.
Apesar de convergirem nos tópicos, as alunas divergiram na estratégia
durante o ano. Enquanto Laís focou em praticar a escrita e chegou a fazer de
dois a três textos por semana; Ivina optou por pensar nas temáticas.
“Neste ano eu não foquei muito na redação em si, porque sempre foquei muito e
na hora da prova eu ficava muito nervosa e me sabotava. Esse ano, eu fiquei
mais de boa, devo ter feito umas 15 redações. Me ative a pesquisas,
anotava as consequências e causas”, detalha.
As duas também compartilham o mesmo desejo de curso:
Medicina. E aguardam agora a divulgação da nota de corte do curso para a
comemoração ser completa. “Mas mesmo que não venha neste ano, a nota 1.000 na
redação me incentiva a acreditar que sou capaz de conseguir”, torce Ivina.
(DomITILA ANDRADE – opovo)