Com o discurso de maior
“independência” em relação ao governo de Jair Bolsonaro, o senador Cid Gomes
(PDT) trabalha para formar um grande grupo de partidos no Senado, nos moldes do
que foi o Centrão na Câmara. Sua intenção é juntar 12 partidos e uma maioria de
50 senadores em um único bloco ainda antes da eleição interna, em 1º de
fevereiro. A ideia é aproveitar a força do grupo para propor mudanças e
permitir maior distribuição de poderes da presidência da Casa e na Mesa
Diretora.
Até
agora, o bloco informal liderado por Cid antes mesmo de sua posse é formado por
quatro siglas, PDT, PSB, PPS e Rede. O irmão de Ciro Gomes (PDT), derrotado no
primeiro turno da disputa presidencial de outubro, tem se aproximado de
lideranças de outras sete agremiações: PP, PTB, PSC, PSDB, PSD, Podemos, PRB e
DEM. Nas conversas, eles discutem a criação de um agenda única tanto para a
reestruturação de algumas dinâmicas internas do Senado como para a análise de
pautas consideradas importantes para o País.
Entre
os nomes que Cid já conversou estão Tasso Jeiressati (PSDB-CE) e Alvaro Dias
(Podemos-PR), que, segundo pessoas envolvidas nas negociações, se disseram
simpáticos à ideia do blocão, embora ainda não tenham batido o martelo se
toparão participar.
Questionado
sobre a similaridade com o Centrão da Câmara, grupo que ficou conhecido pelo
fisiologismo, Cid respondeu que não vê problema na comparação. “Se centrão não
é ser situação e nem é ser oposição a qualquer custo…”, afirma.”
Definitivamente não há identidade ideológica entre esses partidos, mas há nas
linhas de discussão e atuação.”
A
ideia é tentar construir consenso para que algumas das mudanças sejam
encaminhadas já na eleição do Senado, marcada para o dia 1º de fevereiro. A
principal delas visa repartir os poderes da presidência da Casa com os outros
ocupantes da Mesa: primeiro e segundo vice-presidentes, além de quatro
secretários. “Conversei com um senador que reclamou não conseguir pautar um
único projeto para votação. Todos os poderes ficam na mão da presidência”, afirmou
Cid. O modelo a ser seguido seria a Câmara dos Deputados, na qual os outros
ocupantes da Mesa tem atribuições específicas.
Eleição
no Senado. Outra medida discutida é inverter a forma como acontece o pleito
interno. Em vez de eleger primeiro o presidente do Senado, Cid tem consultado
os senadores dessas bancadas para que os parlamentares comecem escolhendo quais
legendas vão comandar comissões permanentes e mistas no Senado, “com base na
competência”. Em seguida, os senadores iriam definir os ocupantes da Mesa
Diretora, passando pela vice-presidência e, só depois, a eleição do comandante
máximo. Na prática, isso permitirá ao grupo maior poder de barganha para
garantir espaços importantes na Casa.
Caso
haja um entendimento entre esses partidos, Cid não descarta também que o
Centrão do Senado apresente ainda um candidato para a disputa da Presidência da
Casa, com a restrição de que ele não será este nome. Esse é um dos motivos pelo
qual o senador cearense não tem tentando uma aproximação com o MDB de Renan Calheiros
(AL) e Simone Tebet (MS). Segundo ele, a interpretação de que o partido de
ambos deve ficar com o comando do Senado é um impeditivo para a entrada dos
emedebistas no bloco, mesmo a legenda se declarando independente em relação ao
Palácio do Planalto.
Para
questionar a tradição de a maior bancada ficar com a cadeira de presidente, no
caso o MDB, ele cita o primeiro parágrafo do artigo 59 do regimento interno. “O
texto diz que ‘na constituição da Mesa é assegurada, tanto quanto possível…'”,
enfatiza a expressão aumentando o tom de voz. “‘…a representação proporcional
dos partidos e blocos parlamentares que participam do Senado’. Esse trecho já
mostra que isso é, mas também não é (bem assim)”, afirmou.
Sobre
as conversas com o DEM, do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o pedetista diz
que, se efetivamente ele decidir que seguirá com a candidatura patrocinada pelo
ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), não terá espaço no grupo, já
que a ideia é garantir a independência.
Desde
que começou esses movimentos, além de Tasso e Álvaro, Cid já se reuniu com
nomes como Espiridião Amin (PP-SC), Telmário Mota (PTB-RR), Otto Alencar
(PSD-BA), Rodrigo Pacheco (DEM-MG), entre outros. Uma das possibilidades é que
alguns desses parlamentares se reúnam na segunda-feira, 28, em Brasília, para
discutir os termos da possível união. É que, se quiserem colocar as propostas
em prática, os partidos precisam bater o martelo sobre as medidas antes da
eleição. “Vou continuar pregando para os senadores até o dia 1º de fevereiro”,
disse Cid.